Líder da Série B do Campeonato Brasileiro, o Santos está perto de confirmar seu retorno à elite do futebol nacional em 2025. Apesar da posição privilegiada na tabela de classificação, parte da torcida não está contente com o desempenho da equipe em campo, com críticas ao trabalho do técnico Fábio Carille.
Presidente do clube, Marcelo Teixeira reconhece que o time não tem feito apresentações dignas do histórico ofensivo esperado pelas arquibancadas. Mas enfatiza que é o que a atual realidade financeira permite.
“Poderíamos estar conciliando a boa pontuação com melhores apresentações. Isso o próprio grupo e a diretoria reconhecem. Porém o Santos vem dentro de um nível de planejamento em que qualquer mudança [na comissão técnica] poderia resultar em prejuízo técnico ou, mais grave ainda, financeiro”, afirmou Teixeira à Folha.
O dirigente preferiu adotar um tom cauteloso e disse que só falará sobre o planejamento de 2025 quando o acesso à Série A já estiver garantido.
Mas assegurou que o caminho para que a equipe da Baixada Santista volte a levantar taças importantes é novamente apostar nos jovens das categorias de base. “Muitos clubes se intitulam como formadores, mas não são reveladores. O Santos é formador e vai provar mais uma vez que é revelador.”
O dirigente falou ainda sobre a possibilidade do retorno de Neymar à Vila Belmiro, dos planos para o novo estádio e do legado que quer deixar ao clube: “Reconquistar a autoestima e a alegria do torcedor”.
Como o senhor avalia a campanha do Santos na Série B? Acho que é uma campanha, até certo ponto, boa. Por causa da campanha no Campeonato Paulista [o clube foi vice, perdendo a final para o Palmeiras], houve uma expectativa de que o Santos nadasse de braçada na Série B. Mas o Brasileiro é diferente de um campeonato estadual, apesar do nível do Paulista. Mesmo com as dificuldades que tivemos na competição, o Santos vem alcançando seu objetivo, que é o acesso.
Faltando cinco rodadas, o Santos tem folga em relação ao quinto colocado. O acesso está sacramentado? Ainda não está sacramentado, porque precisamos de um número mínimo de pontos. Mas, independentemente do número de pontos, o Santos tem que encarar as cinco últimas partidas como cinco decisões. Até porque existe uma vantagem do time campeão da Série B de entrar diretamente na terceira fase da Copa do Brasil. Isso, para o Santos, é um objetivo importante na temporada que vem.
Qual a pontuação com que a diretoria trabalha para assegurar o acesso? Pedi à comissão técnica e aos atletas que busquem 15 pontos. O maior número de pontos necessários para que a gente não fique apenas no limite. O clube que pensa apenas na pontuação mínima pode se prejudicar nesta reta decisiva.
Parte da torcida tem contestado o trabalho de Fábio Carille. Qual é a sua avaliação? É um trabalho que foi escolhido para a temporada de 2024. É um ano atípico, uma temporada completamente fora da nossa realidade, e escolhemos uma comissão técnica que está preparada para levar o Santos aos objetivos do ano. O primeiro foi a disputa do Paulista, e o Santos foi à final. O segundo era conquistar a vaga para a Copa do Brasil de 2025, alcançamos também [pela campanha no estadual]. E agora é o terceiro e último objetivo, que é recolocar o Santos no seu devido lugar, a Série A.
É natural que a torcida tenha as suas preferências, ou mesmo que esteja insatisfeita, por perceber que, pelo grupo de jogadores, o Santos poderia se apresentar de maneira melhor, como o santista está acostumado, com um DNA mais ofensivo. Poderíamos estar conciliando a boa pontuação com melhores apresentações. Isso o próprio grupo e a diretoria reconhecem. Porém o Santos vem dentro de um nível de planejamento em que qualquer mudança [na comissão técnica] poderia resultar em prejuízo técnico ou, mais grave ainda, financeiro.
A atual comissão técnica vai permanecer em 2025? Não há necessidade de uma limpeza geral, como também não há obrigatoriedade de manutenção dos profissionais. Ao terminarmos o campeonato, vamos fazer uma avaliação bem criteriosa.
O último título do Santos foi o do Paulista de 2016. Qual é o caminho para voltar a conquistar taças importantes? Investir na base, voltar a ter uma filosofia de revelar talentos, ter uma preocupação de antever contratos e lançar jogadores de uma forma prudente e corajosa, que é o que o Santos sempre fez. O clube já demonstra outra forma de trabalho, com um acompanhamento e uma atenção com a família, investindo na família para que haja um trabalho duradouro e o Santos não perca talentos precocemente.
E faço já uma previsão otimista, mas bem realista. O Santos, em um espaço de tempo curto, voltará a ter uma equipe jovem, competitiva, com talentos revelados da base, que estarão representando o time em competições oficiais, à altura das grandes forças do futebol brasileiro. É só ter um cuidado na renovação desses talentos, um cuidado de acompanhamento desses meninos, para que eles não se desviem das suas trajetórias e estejam preparados para vestir a camisa do Santos, como estiveram Robinho e Diego, Neymar e Paulo Henrique Ganso ou Gabigol e Rodrygo. Muitos clubes se intitulam como formadores, mas não são reveladores. O Santos é formador e vai provar mais uma vez que é revelador.
Um dos maiores sonhos do torcedor santista é o retorno de Neymar. É uma possibilidade real? Tudo vai depender da vontade do jogador, no momento certo de ele querer voltar ao Brasil. Lógico que o Santos tem um projeto visando o retorno de um jogador desse nível. Ele mesmo já declarou que aqui se sente em casa, já manifestou o desejo de retornar ao Santos, são bons indícios. Mas tudo dependerá do contrato que ele tem hoje com o clube árabe e de todas as situações inerentes à continuidade ou não do jogador no exterior.
Sua eleição ocorreu três dias depois de o Santos ter sido rebaixado. Como foi assumir o clube em um momento tão difícil? É um desafio. Nos jogos finais do Brasileiro de 2023, já percebia que o Santos teria dificuldades na reação para a permanência na Série A. Não sendo pessimista, mas realista. E entendia que era o momento de voltar a contribuir de alguma forma. Hoje, o Santos se encontra em uma situação gravíssima, não apenas no âmbito financeiro, mas de um modo geral, estrutural, na área patrimonial, nos centros de treinamento.
Queremos colocar o Santos em uma reconstrução. Essa reconstrução passa, lógico, por estar na série principal do Brasileiro, de onde o Santos nunca deveria ter saído, mas é também conceitual, para que o clube esteja preparado, com a sua filosofia, com a sua metodologia de trabalho, para estar de igual para igual e brigar com as principais potências do futebol brasileiro.
Vimos nos últimos anos uma série de clubes brasileiros transformando-se em SAFs. É uma possibilidade que o senhor vê com bons olhos? Eu vejo com bons olhos dependendo do tipo de proposta e do momento certo. O Santos vem em um caminho correto de pavimentação, de reestruturação, de recolocação da sua imagem e da sua marca. Entendemos que não é o momento para ir ao mercado. Por mais tradição, por mais história, o Santos está disputando competições diferentes. O próprio mercado reage a isso.
Qual será o impacto do novo estádio para o clube? Acreditamos que seja uma obra importante, que recolocará o Santos em um patamar diferenciado. É um plano não apenas de aumentar sua capacidade de receita, mas também de trazer um ponto turístico fundamental para a Baixada Santista. Estão sendo concluídas as negociações com a WTorre. Tudo está bem encaminhado para que o Santos tenha uma arena multiuso importante para sua história.
Qual a previsão de início e conclusão das obras? Pretendemos fazer em dezembro o início da comercialização das cadeiras e dos camarotes. Porém o Santos tem outro problema, que é onde mandar seus jogos. Temos um contrato com a Allegra Pacaembu, onde o Santos pretende mandar seus jogos em São Paulo quando definirmos a demolição e a construção da nova arena. Porém ainda não temos o prazo por parte do consórcio de quando serão finalizadas as obras no Pacaembu. Dependemos da finalização das obras para que possamos mandar os jogos do Santos lá.
O presidente Lula comentou recentemente sobre a possibilidade da doação de um terreno em Santos para a construção do novo estádio. Como estão essas conversas? Eu, particularmente, não tenho esse conhecimento. Também ouvi, fui questionado a respeito dessa manifestação do presidente, mas não tenho detalhes sobre a forma de doação do terreno. Vamos procurar contato com o governo para entender de que forma poderíamos ter a chance da doação de um terreno aqui na Baixada Santista para a construção do novo estádio.
Qual é o maior legado que o senhor quer deixar ao clube? O maior legado é reconquistar a autoestima e a alegria do torcedor. Sem que isso custe a dignidade de um clube como o Santos. A dignidade e o respeito que o Santos deve ter no mercado, que, infelizmente, o clube perdeu nesses últimos anos.
Marcelo Teixeira, 60
Filho de Milton Teixeira, presidente do Santos nos anos 80, está em seu terceiro período no mesmo cargo ocupado pelo pai. Tornou-se em 1992 o mandatário mais jovem da história do clube, aos 27 anos, ficando até 1993. Na segunda gestão, entre 2000 e 2009, celebrou o fim de um jejum de títulos importantes, após espera de 18 anos. Pró-reitor da Universidade Santa Cecília, voltou à cadeira de presidente alvinegro no início deste ano.