O agronegócio brasileiro que cresce ano a ano ainda transporta mais de 60% dos produtos agrícolas por rodovias. Com a demanda crescente e território abundante, o setor necessita de investimentos em ferrovias, que reduziriam em 30% os custos com o frete.
O assunto foi discutido pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em audiência pública na Comissão de Infraestrutura do Senado, na quinta (10), que reuniu instituições públicas e privadas para debater as concessões e a ampliação das linhas férreas brasileiras.
Ferrovias reduzem custo de transporte com produtos agrícolas
As ferrovias brasileiras movimentam só 18,5% do volume de produtos agrícolas, 72% de minérios e 9,4% de outros produtos como a siderurgia, por exemplo, segundo dados da Infra S.A, empresa pública federal controlada pela União através do Ministério da Infraestrutura.
De acordo com a assessora técnica da Comissão Nacional de Logística e Infraestrutura da CNA, Elisangela Pereira Lopes, o transporte ferroviário é mais sustentável e tem um custo menor em relação ao rodoviário, mas ainda é pouco utilizado.
“Na balança comercial temos uma importância relevante. Não dá mais para transportar mais 60% da nossa carga em rodovia tendo potencial para utilizar outros modos como o ferroviário.”
Segundo ela, o Brasil se divide em dois cenários: uma produção agropecuária consolidada nas regiões Sul e Sudeste, onde a densidade de linhas férreas é maior, e as novas fronteiras agrícolas, onde a densidade das ferrovias é quase inexistente, com alguns exemplos das ferrovias Norte e Sul, Carajás, Fiol (em andamento) e Transnordestina.
Transporte pelas ferrovias
Nos cálculos da assessora, em 2010 mais ou menos 20 milhões de toneladas passaram pelas ferrovias do país, correspondendo a 20% da produção de grãos e em 2023, os mesmos 20% permanecem.
Entretanto, a produção aumentou muito e a oferta ferroviária, embora tenha crescido em transportar de 11% do volume agro em 2010 para 18,5% em 2023, continua quase que estagnada, pois a safra brasileira de grãos tem crescido 12 milhões de toneladas por ano, desde 2009, principalmente no Centro-oeste brasileiro e no Matopiba (área entre os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia).
“Então, isso traz uma preocupação para o setor. Até quando ficaremos cativos do modo rodoviário, percorrendo de 1,5 mil a 2 mil km para chegar com a carga em um supermercado ou porto? Existem projetos em andamento e vemos uma tendência de crescimento nos investimentos, mas eles têm que alcançar a velocidade da produção e não ficar atrás.”
Novas ferrovias
Os custos para implantação de novas linhas férreas no país, gira em torno de 20 milhões de reais por quilômetro. Segundo a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), o Brasil possui 30 mil quilômetros de ferrovias existentes atualmente, com apenas 15 mil em funcionamento real.
A técnica argumenta que o agro oferece carga suficiente para construir ferrovias, aumentar a capacidade, disponibilidade e a oferta de ferrovias no Brasil.
Ferrogrão
A especialista ressaltou que a CNA defende a construção da Ferrogrão porque irá reduzir os custos do setor com transporte de carga. O projeto da linha conta com 933 quilômetros que ligarão a região de Sinop (MT) a Miritituba (PA).
“O cálculo é em torno de 30% de redução com os custos de transporte com a Ferrogrão e existe carga para isso. Além disso, a Ferrogrão tem uma série de benefícios sustentáveis, como a redução das emissões de CO2.”
Elisangela encerrou pedindo aos parlamentares apoio do Senado em prol de maior celeridade na tramitação do processo sobre a Ferrogrão, que está em andamento no Supremo Tribunal Federal.
“Quando a gente vê a previsão do IMEA de que a produção de grãos chegará a 149 milhões de toneladas até 2034, a gente vê que tem carga para movimentar na Ferrogrão. O estudo está pronto, mas fica aí a indefinição se teremos leilão no ano que vem mesmo ou não. A ANTT se manifestou dizendo que o leilão pode acontecer até 2025, então pedimos o apoio para que se consiga um horizonte mais claro do que de fato vai acontecer com a Ferrogrão”, finalizou a assessora técnica.