Nesta semana saiu a sentença de um dos casos de racismo contra Vinicius Junior na Espanha. O torcedor, que cometeu os insultos racistas contra o brasileiro em um Mallorca x Real Madrid, em 2023, e contra Samu Chukwueze, do Villareal, semanas depois, foi condenado a um ano de prisão, mas não vai para a cadeia porque pediu desculpas e passou por uma espécie de reabilitação. Está proibido de frequentar estádios por três anos em jogos do futebol espanhol.
Como cidadã, me incomoda o fato de que um pedido de desculpas seja atenuante. Mas fato é que algo está mudando e atos racistas por lá agora têm consequências. Foi a terceira condenação penal nos últimos meses por injúrias raciais contra jogadores do Real Madrid. Dá para fazer mais em termos de punições? Sem dúvidas.
Vinicius tornou-se protagonista de uma luta cuja responsabilidade de liderar mudanças não é dele. E a voz dos atletas é fundamental, mas muitos só vão se sentir à vontade para falar se fizerem parte de um sistema que os proteja. Aqui na Inglaterra, longe dos holofotes da Premier League, já conversei com jogadores de ligas inferiores que ouvem todo tipo de absurdo sem que nada seja feito.
Quando era técnico do Liverpool, Jürgen Klopp declarou que apoiaria seus jogadores caso eles decidissem sair de campo se ouvissem abusos vindos das arquibancadas. Já o atacante Raheem Sterling, alvo de incontáveis injúrias, disse que abandonar uma partida seria deixar que racistas vencessem.
Outro ponto é que sanções a clubes são brandas. Jogos com portões fechados e penalidades financeiras irrisórias não têm adiantado. Prisões a indivíduos não são frequentes —isso quando a sentença não é substituída por multa, pedido de desculpas— e trazem o debate sobre se punir a pessoa que comete o ato em vez de o clube para o qual ele torce é mais eficiente.
Houve um avanço aqui no Reino Unido depois que o governo aprovou uma lei que permite que torcedores sejam banidos de estádios por injúrias cometidas na internet. Ano passado, um homem mandou mensagens racistas para Ivan Toney no Instagram, o jogador repostou e isso motivou uma investigação da polícia. O cidadão foi proibido de frequentar estádios britânicos por três anos, na primeira condenação do gênero. Enquanto cada país lida com suas próprias questões, o combate ao racismo tem que seguir evoluindo.
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Assisti a um documentário nesta semana sobre a famosa greve de mineradores britânicos em 1984-85 e um episódio conhecido como “batalha de Orgreave”, que terminou em prisões e violência policial. Na época, a exploração de carvão estava em declínio, mas ainda era a principal atividade econômica de algumas cidades, e sindicatos estavam na mira do governo conservador de Margaret Thatcher.
Um dos mineiros conta que, por anos, se uma mina recebia ameaça abrupta de fechamento —com isso, famílias não teriam como se sustentar—, trabalhadores organizavam greves no país inteiro. Mas o movimento começou a ruir quando um grupo parou de aderir às paralisações para não perder os bônus de produtividade. O governo percebeu a divisão e se aproveitou disso.
São situações totalmente diferentes, claro, mas, muitas vezes, o sucesso de uma causa só é possível se há união e apoio de todos os lados.
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