O judoca sérvio Nemanja Majdov foi suspenso pela Federação Internacional de Judô (IJF, na sigla em inglês) por um período de cinco meses por fazer o sinal da cruz antes de sua luta contra o grego Theodoros Tselidis, pelas oitavas de final na categoria até 90 kg nos Jogos de Paris.
O gesto do judoca é vetado pelo Artigo 3º do código de ética da IJF. No período, Majdov não poderá participar de nenhuma competição e nem participar de camps de treinamento.
Durante as Olimpíadas, o tenista sérvio Novak Djokovic também fez o sinal da cruz após sua vitória na final contra o espanhol Carlos Alcaraz.
“A verdade é que, na minha carta de defesa para o processo disciplinar, não queria me desculpar por ter me benzido e, claro, não o fiz, nem nunca o farei, embora não soubesse o quão severa a punição poderia ser”, declarou Majdov em comunicado divulgado na segunda-feira (17), no qual disse ter sido informado sobre a suspensão há cerca de 15 dias.
“O Senhor me deu tudo, tanto pessoalmente quanto para minha carreira, e Ele é o número um para mim, e tenho orgulho disso. E isso não mudará em nenhuma circunstância”, acrescentou o lutador.
O judoca sérvio acabou derrotado na disputa contra Tselidis após receber uma punição do árbitro por falta de combatividade, em uma edição dos Jogos em que o intervencionismo dos juízes foi bastante criticado pelos atletas.
Inconformado com o resultado, Majdov se recusou a sair o tatame, deixando a área de luta alguns minutos depois bastante irritado.
“Lixo satânico. A arbitragem está envenenada. Me desclassificam em dois minutos e não me dão a chance de mostrar nada. Esses valores de vocês, esportes e Olimpíadas, são lixo. O judô é um esporte perdido. 100% do resultado da luta é controlado pelos árbitros. Aqueles que se curvam avançam. Vocês nunca conseguirão isso de mim. Não preciso de uma medalha dessa forma”, escreveu Majdov em uma publicação –posteriormente apagada– nas redes sociais após sua participação em Paris-2024.
O judoca de 28 anos foi campeão mundial em 2017, em Budapeste, na Hungria. Em 2023, venceu o campeonato europeu, em Montpellier, na França, e em 2024, ficou com a prata no mundial disputado em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos.
O tema religião permeou os Jogos de Paris. Durante o evento, o Comitê Olímpico Internacional (COI) informou que repreendeu o Comitê Olímpico do Brasil (COB) pela manifestação religiosa da skatista Rayssa Leal, na prova em que conquistou a medalha de bronze.
“Estamos em contato com o comitê olímpico nacional [brasileiro] e relembramos as Diretrizes de Expressão dos Atletas”, explicou na ocasião a assessoria de comunicação do COI. Trata-se de um documento que detalha o que pode ou não ser feito em termos de manifestação política ou religiosa.
Usando a linguagem de sinais Libras, a “fadinha” fez referência, diante das câmeras de TV, a um trecho de um versículo da Bíblia (João 14:6), que define Jesus Cristo como “o caminho, a verdade e a vida”.
A regra 50 da Carta Olímpica, documento do Comitê Olímpico Internacional (COI), afirma que “nenhum tipo de manifestação ou propaganda política, religiosa ou racial é permitida em quaisquer locais, sedes ou outras áreas olímpicas.”
A Comissão de Atletas do COI emitiu diretrizes em relação à aplicação da regra 50. No documento, esclarecem que é proibido manifestar-se política ou religiosamente no campo de competição, na Vila Olímpica, no pódio das medalhas e nas cerimônias de abertura e encerramento. Porém, é permitido expressar-se em entrevistas coletivas e nas “mídias digitais ou tradicionais”.