“Game is not over”, o jogo não acabou, era a expressão usada para atrair a torcida olímpica para os Jogos Paralímpicos. Depois de dez dias de competições intensas, agora sim, “the game is over”, acabou, “c’est fini”.
E a Paralimpíada terminou como a Olimpíada começou, com muita chuva. Desta vez, com público seco. Só se molharam paratletas, voluntários, dirigentes (eles mereciam), mascote e os 187 DJs franceses que tocaram na cerimônia, todos provavelmente amigos de Jean-Michel Jarre.
Jean-Michel é considerado o pai da música eletrônica na França. Prefiro o pai, Maurice, autor de trilhas de filmes como “Lawrence da Arábia” e “Doutor Jivago”.
Em muitos pontos, Paris acordou quase como se nada tivesse acontecido. Mas as pistas do evento esportivo ainda estão espalhadas pela cidade.
A place de La Concorde, que foi arena de esportes urbanos e palco da abertura paralímpica, abriga várias máquinas pesadas agora. Um turista brasileiro, fazendo selfie diante do que ainda resta da arena, perguntava para a acompanhante, “o que jogaram aqui mesmo?”.
Este escriba, em momento pouco humilde (na reta final), estava na provisória instalação da Arena Campo de Marte, que recebeu o judô, no glorioso sábado (7), quando os brasileiros conquistaram três ouros, uma prata e um bronze. Era o último dia de competições ali.
Após falar com a parajudoca dourada Rebeca Silva na zona mista e voltar para a tribuna de imprensa, não havia mais ninguém na plateia.
Porém, antes de concluir o texto para esta Folha, a área de luta já estava cheia de novo. Eram funcionários atuando no desmonte da arena, com grandes plataformas articuladas e outros maquinários —deu até para este escriba subir no tatame ousadamente sem ninguém se importar.
De acordo com a organização, a Paralimpíada foi sucesso de público, com 2,5 milhões de ingressos vendidos —perto dos 2,7 milhões de Londres. Sim, várias disputas tiveram lotações esgotadas, como o próprio judô, modalidade querida dos franceses, a esgrima, no imponente Grand Palais, e os jogos noturnos do futebol de cegos.
Mas também teve muita sessão com público bem pequeno (menor até que Palmeiras em Barueri), como as provas de natação pela manhã, o parataekwondo, no mesmo imponente Grand Palais, ou jogos em Roland Garros.
Poucos testemunharam o bicampeonato paralímpico de Mariana d’Andrea na Arena Porte de La Chapelle, com cheirinho de nova —é a única obra fixa construída na capital e já com destino e nome certo; será Arena Adidas, casa do time de basquete de Paris. Venderam os “naming rights” uns 1.800 dias mais rápido que o Corinthians. Nada de elefantes blanc, bleu ou rouge.
E teve ainda evento sem ingressos disponíveis, com a suposta lotação esgotada, mas com cadeirinhas vazias na arena. Um mistério. Talvez fosse o assento do tal elefante branco, que não veio.
Mas ninguém duvidava da beleza que Paris proporcionaria aos Jogos. A surpresa mesmo, pelo menos para este escriba, foi o envolvimento da torcida, a paixão pelos atletas e paratletas franceses e até por estrangeiros simpáticos —todos amam Gabrielzinho.
Vamos ver quanto tempo o frio que se aproxima demora para trazer de volta o “citoyen” blasé. No próximo domingo a festa ainda terá seu adeus oficial, com medalhistas franceses desfilando na Champs-Elysées.
Tempo para mais um pouquinho de “allez, les bleus”.
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