Votações indicam base enfraquecida e necessidade de articulação do governo, dizem especialistas


Após uma semana importante para a agenda do governo, especialistas ouvidos pela CNN apontaram que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) precisa fortalecer suas alianças e articular mais com os parlamentares.

Nos últimos dias, o governo sofreu uma derrota – a aprovação do marco temporal das terras indígenas, na Câmara – e garantiu uma vitória – a MP dos ministérios – no Congresso Nacional.

Para Márcio Coimbra, professor da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília (FPBM) e coordenador do curso de pós-graduação de relações institucionais e governamentais, a base do governo se mostra fraca.

“Lula tem uma base de, no máximo, 180 parlamentares [de 513]. Para ter uma maioria simples ou de dois terços, é preciso negociar votação por votação”, diz.

Com isso, o governo precisa negociar de forma dura no final para conseguir a aprovação da medida provisória dos ministérios nos últimos minutos, avalia Coimbra.

Aliados do governo ainda tentaram adiar a votação do marco temporal para realizar uma possível articulação, mas não conseguiram e acabaram derrotados.

O professor aponta que Lula voltou ao poder tentando reeditar o modelo de 20 anos atrás, quando “o Executivo tinha poder e conseguia seduzir os parlamentares com cargos e emendas”.

“Agora, esse poder está do outro lado, no Congresso Nacional. A gente saiu do modelo de presidencialismo de coalizão para uma espécie de semiparlamentarismo.”

Coimbra destaca que esse modelo torna qualquer base fraca, “a não ser que o governo eleja uma maioria a seu favor no Congresso” – que não é o caso de Lula.

Para ele, a solução é abrir espaço para o centrão, “algo similar ao que fez Michel Temer”, já que “Lula governa e não quer dividir a gestão”.

“Me parece que a única alternativa é entregar alguns ministérios de porta fechada ao centrão para eles formarem uma base sólida e aprovarem os projetos do governo no Congresso”, conclui.

Já a cientista política Deysi Cioccari, que classifica a base do governo como “desarticulada”, diz que Lula precisa parar de delegar algumas negociações.

“A gente sabe que o Lula tem delegado a maioria das conversas para o Rui Costa [ministro da Casa Civil] e Alexandre Padilha [ministro das Relações Institucionais]. Ele precisa voltar a fazer como nos governos anteriores: ele mesmo receber alguns parlamentares, até para dar sensação de prestígio”, diz.

Dessa forma, segundo ela, o presidente conseguiria construir e fortalecer sua base.

Em entrevista à CNN Rádio, o cientista político Rafael Cortez também falou sobre a necessidade de o presidente se dedicar ao jogo parlamentar e “ser ator importante”. 

Um personagem-chave para essa aproximação é Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, que, segundos os especialistas, poderia conseguir as aprovações que o governo deseja, como foi feito na MP dos ministérios.

Para Deysi, o presidente da Casa é um dos protagonistas da política dos últimos anos e pode “ainda dar uma cartadas e esticar a corda para o lado do presidente Lula”.

Coimbra reforçou que o governo precisa construir uma boa relação com o centrão e com o presidente da Câmara.

“Lula vai precisar abrir espaço para esse grupo de Arthur Lira no governo se quiser votos para aprovar todas as suas medidas. Senão, vai ser igual à MP desta semana: vai ser negociado caso a caso, com o governo liberando emendas que ainda tem sob seu controle. Ou seja, vai ser muito custoso, e não será uma base sólida. Nós não sabemos se o presidente Lula está disposto a isso”, diz o especialista.



CNN Brasil