Alvo de uma operação do Ministério Público do Rio de Janeiro, o ex-jogador Emerson Sheik é acusado de ajudar o bicheiro Bernardo Bello a movimentar ilegalmente R$ 473,5 mil. Denunciado pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) por lavagem de dinheiro, Sheik recebeu, em quatro transações bancárias diferentes, dinheiro em espécie depositado pelo chefe do jogo do bicho. Os depósitos foram feitos entre agosto de 2013 e janeiro de 2014. Os dois foram alvos de uma ação deflagrada na sexta-feira.
A denúncia que já foi recebida pela Justiça indica que o ex-atleta — que já jogou pelo Corinthians, Flamengo e Fluminense —, fez um negócio imobiliário com o bicheiro, por meio da permuta de uma cobertura por uma mansão de Bello na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio. Sheik, no entanto, teria recebido dinheiro por fora, embora oficialmente o negócio tenha ficado no “zero a zero”.
Por que a permuta foi considerada lavagem de dinheiro?
- Dados obtidos a partir da quebra do sigilo bancário de Emerson Sheik revelam quatro depósitos totalizando R$ 473,5 mil.
- A permuta entre Sheik e Bello foi apontada no cartório como um negócio “zero a zero”, ou seja, não deveria haver pagamentos pela troca.
- A análise dos extratos bancários de Bello indicou que os valores dos depósitos não foram sacados de suas contas, o que, segundo o MP, aponta a natureza ilícita da origem dos recursos.
- Bello não tinha suporte financeiro em sua receita formalmente declarada. Ou seja, o dinheiro usado na compra do imóvel seria, conforme aponta a denúncia, oriundo do jogo do bicho e da exploração de máquinas caça-níqueis.
- Terceiros foram usados para a realização de duas transações bancárias.
Entenda o caso
Emerson Sheik, cujo nome verdadeiro é Márcio Passos de Albuquerque, é um dos nove denunciados por fazer parte de uma organização criminosa encabeçada por Bernardo Bello. Deflagrada na sexta-feira, a Operação Banca da Vila teve como objetivo cumprir um mandado de prisão contra Bello e mais nove mandados de busca e apreensão.
O esquema envolvendo Sheik foi feito por meio de uma permuta de imóveis. No entanto, entre agosto de 2013 e janeiro de 2014, quatro transações bancárias foram efetuadas para o ex-jogador, que, segundo o MP, foram autorizadas por ele, que não as declarou. As transferências também foram feitas antes da troca dos imóveis, o que foi considerado pelos promotores como algo “ardiloso” e “premeditado”. Além disso, de acordo com a denúncia, duas das movimentações financeiras foram realizadas por terceiros.
Em 11 de novembro de 2013, R$ 115 mil foram transferidos para Sheik por Wander Antonio de Souza, que é inspetor da Polícia Civil inativo. Já em 18 de dezembro do mesmo ano, quem transferiu o montante de R$ 125 mil para o ex-jogador foi Paulo Henrique Borges Sekiguchi — à época tesoureiro na sociedade empresarial RP4 Eventos e Promoções, que tinha como sócios Reinaldo Pitta e seus filhos. Pitta, segundo o MP, era agente de Emerson Sheik.
Além disso, também foi apontado que o ex-jogador declarou à Receita Federal que seu apartamento no condomínio Península, na Barra da Tijuca, valia R$ 800 mil, quando, na verdade, o imóvel era estimado em R$ 4,5 milhões.
Sheik e Bello foram denunciados por ocultar e dissimular a natureza, a origem e os valores provenientes, direta ou indiretamente, da exploração do jogo do bicho e de máquinas caça-níqueis, envolvendo a Escola de Samba Vila Isabel, da qual Bernardo Bello foi presidente.
Histórico do jogador
Não é a primeira vez que Sheik se envolve em negócios suspeitos com contraventores. O ex-jogador, em 2010, apareceu no noticiário como comprador de um BMW X6 do bicheiro Haylton Scafura (filho de Piruinha, assassinado em junho de 2017). O carro foi importado ilegalmente. Segundo a investigação, na operação batizada de Black Ops, Sheik adquiriu o carro à Euro Imported Cars (de propriedade do bicheiro) e declarou na nota fiscal ter pago apenas US$ 5 mil para um carro que valia em torno de US$ 57 mil.
Ao receber a nova denúncia contra Sheik, pela transação com Bello, o juiz Thales Braga, titular da 1ª Vara Criminal Especializada em Organização Criminosa do Rio, determinou que o ex-jogador compareça em juízo, a cada dois meses, para justificar as atividades. Ele terá ainda de informar os números de telefone, inclusive por aplicativo de mensagem WhatsApp, manter o endereço atualizado para comunicações de atos processuais e não se ausentar por mais de 15 dias da cidade onde reside sem autorização judicial.
A Justiça deferiu também apreensão e bloqueio de bens dos denunciados. Além de Bernardo e Sheik, foram denunciados pelo MPRJ Marina Ritter Forny, Suely de Oliveira Mendes, Marilda Aparecida Lisboa Bastos, o ex-presidente da GRES Vila Isabel Fernando Fernandes dos Santos, Thaysa da Costa Mendes, Rodrigo dos Santos Cunha e Sonia Maria Rossi, mãe de Bernardo Bello.
Fonte: Fonte: Jornal Extra