Suspeito de envolvimento na morte da morte da grávida Letycia Peixoto Fonseca, de 31 anos, em Campos dos Goytacazes, o professor de Química Diogo Viola de Nadai é casado com outra moradora da cidade. Ele era o companheiro de Letycia e supostamente o pai do bebê que também morreu após a mãe ser baleada. Em seu depoimento na 134ª DP (Campos), que investiga o caso, ele negou conhecer os dois homens acusados de fazerem a emboscada contra a mulher. Diogo Viola também diz não saber quem poderia ter cometido o crime.
A esposa do professor já foi ouvida pela Polícia Civil e não é considerada suspeita do crime. Apesar do casamento jurídico, ele morava com a vítima e tinha uma união estável com ela, segundo a delegada Natália Patrão. A investigação até o momento concluiu que elas não tinham contato entre si ou se conheciam.
— Eles moravam juntos. As informações que temos é que era uma relação conturbada (entre Diogo e Letycia), um pouco atípica. Quando o bebê morreu no hospital tomei o cuidado de entrar em contato com o setor médico legal e pedir que fosse colhido materiais para futuramente, caso necessário, fosse feito o exame de paternidade. Solicitei que ele (Diogo) viesse a delegacia para saber se ele forneceria o material para o exame. Ele se negou. Representei pelo recolhimento do atual companheiro da vítima para evitar o eventual deslocamento. Ele é considerado suspeito, mas ele não pode ter antecipação de culpa. Está tudo sendo investigado. E eu como a presidente do inquérito ainda não tenho provas — diz Natália.
O homem preso acusado de dirigir a moto que fez a emboscada contra Letycia Fonseca confessou ter participado do crime. Na delegacia, alegou que outra pessoa contratou o atirador e ele não tem contato com esse indivíduo. Já o homem apontado como garupa e executor da vítima, ficou em silêncio durante seu depoimento. Outras pessoas são investigadas pela participação do crime. Para a Polícia Civil o crime foi premeditado mas ainda não há a certeza se foi cometido por ódio.
— O atirador permaneceu em silêncio aqui na delegacia e não confessou. — O crime foi premeditado com certeza. As pessoas saíram para a execução daquela mulher. Não sabemos se tem relação de ódio. Eles vão responder por homicídio consumado, tentado e um aborto, já que a intenção eram matar o feto também — afirma.
O crime
Morta na noite de quinta-feira, Letycia dirigia o carro da empresa em que trabalhava como gerente. No momento do crime, a gestante de oito meses trazia a tia Simone Fonseca — que tem síndrome de Down — de um passeio e a deixava na rua Simeão Schremeth, mesma via em que morava.
Depois de encostar o carro, dois homens em uma moto se aproximaram do veículo conduzido por Letycia e o garupa disparou contra a motorista. A tia, que estava no banco do carona, não foi atingida, mas agora lida com o trauma de ter presenciado a cena e ficado coberta pelo sangue da sobrinha.
Neste sábado, um dos ocupantes da moto usada na execução de Letycia foi preso em Campos, depois de diligências da Polícia Civil pelas comunidades do município. Na tarde desta segunda-feira, o segundo suspeito também foi levado à delegacia.
Também investigado pela Civil, o pai da criança, Diogo é professor do Instituto Federal Fluminense desde 2008 e, de acordo com o Portal da Transparência, trabalha em jornada de dedicação exclusiva. Na folha de pagamento de janeiro deste ano, a mais recente disponível no sistema, o servidor público aparece com uma remuneração bruta de R$ 18.663,64.
A instituição é a mesma em que Letycia Fonseca se formou como técnica em eletrônica em 2014 e foi onde, segundo pessoas próximas, o casal teria se conhecido. Pai de Hugo Peixoto Fonseca, o bebê que Letycia esperava, Diogo vivia um relacionamento com a jovem, no que um parente chama de “relação estranha”: o empresário aparecia “de vez em quando” e não gostava de aparecer em fotos.
— Ele é um cara de poucas palavras, a Letycia também era uma pessoa reservada — justifica um familiar, que não sabe dar muitos detalhes sobre a relação de Letycia e Diogo. — No dia do crime, ele dormiu na casa da Cintia (mãe de Letycia) e, durante o enterro (no dia seguinte), chegou a dormir.
As investigações, segundo balanço da delegada à frente do caso, Natália Patrão, titular da 134ª DP (Campos), caminham para o crime ter motivação passional.
— Eu representei pedindo o recolhimento do passaporte do pai, como uma forma de resguardar ao final do processo a aplicação da lei penal. Uma medida cautelar de prevenção. Mais diligências externas foram feitas, provas produzidas e testemunhas ouvidas. Vou resguardar o sigilo para garantir o sucesso da investigação, estamos em um caminho muito bom — declarou Natália durante este fim de semana.
Em um dos poucos registros que a família tem conhecimento, o pai da criança aparece sem camisa ao lado de Letycia. Abraçado à grávida, ambos estão com as mãos sobre as próprias barrigas.
Empresário, seu nome consta no quadro societário de uma loja de calçados de Campos dos Goytacazes. Natural do Espírito Santo, a família de Letycia aponta que ele fazia muitas viagens.
No ano passado, Diogo participou do campeonato brasileiro de pôquer (o BSOP), em São Paulo. Na ocasião, a página de notícias do site oficial do evento destacou a participação de Diogo, já que, na categoria em que disputou, “ninguém juntou mais fichas” do que ele.
A matéria, de novembro de 2022, destaca que, de 160 inscritos, apenas 15 sobreviveram àquela etapa do torneio, inclusive Diogo. Na mesa final, Diogo figurou na sexta colocação.
A reportagem procurou Diogo de Nadai, mas não conseguiu contato.
‘Excelente aluna’
O pequeno Hugo Peixoto Fonseca, que chegou a nascer com vida, mas morreu no dia seguinte à morte de Letycia, foi enterrado com a mãe na noite de sexta-feira, em Campos. No velório, que atrasou pois a família aguardava a liberação do corpo do bebê, o pai da criança esteve presente e segurou o caixão do filho.
Engenheira de Produção com bacharel e mestrado, Letycia Peixoto Fonseca foi lembrada pelas instituições em que estudou como uma estudante de destaque.
A Universidade Candido Mendes — faculdade em que cursou a graduação — divulgou em seu site uma nota de falecimento com “profunda tristeza e consternação”.
“Letycia era uma excelente aluna na graduação em Engenharia de Produção e por isso continuou os estudos cursando mestrado na mesma área na UENF”, relembra a Candido Mendes. “Infelizmente, nos deixou precocemente, vítima de um crime bárbaro ocorrido na noite do dia 02/03, que chocou a sociedade campista e está sob investigação.”
Já a Universidade estadual do Norte Fluminense informa que Letycia concluiu seu mestrado em Engenharia de Produção na instituição no segundo período de 2019, mas que só publica notas de falecimento de estudantes com matrículas ativas, ou de servidores (ativos e aposentados).
A direção-geral do campus Guarus (Campos dos Goytacazes) do Instituto Federal Fluminense, por sua vez, manifestou sua solidariedade aos familiares e amigos da ex-aluna por meio das redes sociais.
Fonte: Fonte: Jornal Extra