Além de perseguir e ex-namoradas, locatária de imóvel e até funcionária de agência bancária, Bruno César Roxo Ferreira, de 36 anos, chegava a se aproximar e a ameaçar amigos e familiares das vítimas. Preso pela prática conhecida como “stalking” nesta quarta-feira, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, o rapaz ligava e enviava mensagens de texto e de áudio e e-mails a fim de constranger as pessoas. Contra uma das mulheres, ele dizia que denunciaria sua colega por manter uma loja de equipamentos eletrônicos de origem ilícita.
“Eu não quero ser seu amigo. Ou a gente está junto, ou não está junto, ou estamos em guerra. Se a gente tiver em guerra, vou colocar as coisas de novo. Me arrependi de ter tirado e vou colocar de volta”, ameaçava, em uma das mídias obtidas pelo GLOBO.
Nessa situação, segundo a vítima, de 28 anos, Bruno se referia a comentários deixados por ele nas páginas das redes sociais de uma amiga com quem ela morava. Nas publicações, a mulher conta que o homem a difamava e ainda a ameaçava de expor imagens suas como garota de programa em páginas especializadas.
“Vou botar fotos dela no site de puta por 50 reais e botar o endereço de vocês. Estou esperando me desbloquear. Se não falar comigo, vou fazer um monte de coisas com ela no site de puta”, escreveu, em uma das postagens.
— A partir do momento que o comuniquei que não sairíamos mais juntos, ele prometeu que faria da minha vida um inferno e realmente cumpriu. Ele passou a me perseguir, ameaçar e também a fazer chantagem. Além de mandar mensagem pro meu trabalho, tentando me demitir, procurou meus amigos. Essa amiga com quem divido apartamento foi ameaçada por ele diversas vezes. Ele dizia que denunciaria a loja dela no Procon e fez de tudo para que eu não tivesse outra alternativa a não ser voltar com ele — contou a mulher, em entrevista ao GLOBO.
A jovem procurou a Delegacia de Atendimento a Mulher (Deam) de Jacarepaguá, após o término do relacionamento com Bruno, em janeiro. Os dois também se conheceram em um dispositivo de paquera online e mantiveram encontros por aproximadamente seis meses:
— No início, ele parecia pessoa ser uma pessoa inteligente, além de super agradável e carinhosa. Começamos a conversar e, alguns dias depois, marcamos um jantar. Mas, com o tempo, comecei a perceber que ele surtava em alguns momentos e passava a ser agressivo, me humilhar, me constranger e ainda caluniar meus amigos.
Com medo de Bruno, a mulher procurou a Delegacia de Atendimento a Mulher (Deam) de Jacarepaguá, há cerca de um mês. Na especializada, contou estar sendo vítima de perseguição por parte do empresário, que chegou a dizer que possuía uma pistola e a ameaçá-la: “Vou te entupir de tiro, te esfaquear” e a chamá-la de “piranha” e “safada”:
— Quando o bloqueei no celular, ele criou mais de dez perfis fakes nas redes sociais, inclusive no WhatsApp. Mandava mensagem como se fosse outra pessoa elogiando ele mesmo. Também chegou a mandar e-mail para o meu trabalho tentando me demitir e até a ir até os meus amigos. A especialidade dele é terror psicológico, mas cheguei a temer pela minha vida. Agora, só espero que ele fique preso para que todas as vítimas fiquem mais tranquilas.
Um levantamento feito pelo GLOBO em registros de ocorrências realizados pela Polícia Civil do Rio mostra ainda que, em 8 de outubro de ano passado, a proprietária de um imóvel na Estrada do Camorim, em Jacarepaguá, esteve na 32ª DP (Taquara). Na ocasião, ela relatou ter conversado por telefone com Bruno, por volta de 15h, sobre o aluguel do seu imóvel. Segundo ela, o empresário pagava diárias, há aproximadamente duas semanas, mas “ficou irritado” ao ser questionado sobre as cobranças.
Na delegacia, a mulher contou que Bruno a ameaçou, dizendo saber onde ela morava, que tinha contatos e que iria “arrebentar seu marido de porrada”. Também em janeiro, a gerente de relacionamentos de uma agência bancária na Rua Conde de Bonfim, na Tijuca, procurou a delegacia do bairro. Ela narrou que, após o empresário abrir uma conta no local, ela o avisou que a liberação de crédito não aconteceria de maneira imediata.
Na 19ª DP (Tijuca), a mulher disse ainda que, no dia seguinte, Bruno retornou ao banco interessado em contratar um seguro de vida e título de capitalização. Novamente, ela diz ter explicado que o crédito não seria de forma alguma instantânea. Ao sair da agência, o empresário passou a enviar mensagens a gerente oferecendo valores caso ela conseguisse efetuar tal liberação. Constrangida, disse que se sentia ofendida com o teor da conversa.
Irritado com a negativa, ele passou a chamá-la de golpista, mentirosa e safada, escrever nas redes sociais que ela o havia ludibriado e ainda ameaçá-la de morte. “Minha vontade é mandar te matar, sua filha da puta, golpista safada”, escreveu em um dos textos. Em outro, afirmou conhecer seu horário de entrada e saída do trabalho e a demonstrar que conhecia seus familiares: “Só a sua morte ou do seu filho paga o que você fez comigo”.
— O fato que o levou a prisão não se trata de um caso isolado, tendo em vista que ele está sendo investigado em diversos inquéritos em outras delegacias pela prática de outros crimes com dinâmicas parecidas, mostrando uma reiteração criminosa — afirmou Nogueira.
Fonte: Fonte: Jornal Extra