A Polícia Civil e o Ministério Público do Rio (MPRJ) desencadearam, na manhã desta sexta-feira, a Operação Pequod visando ao sequestro de bens do contraventor Rogério Andrade. Os investigadores identificaram que cerca de R$ 42 milhões são decorrentes de patrimônio adquirido com o dinheiro da exploração de jogos de azar. Há indícios ainda de que o contraventor usava empresas legalizadas, cuja arrecadação era lícita, para incluir dinheiro oriundo do jogo do bicho, máquinas de caça-niqueis e bingos. Não à toa, um dos alvos da busca e apreensão é o refinado restaurante Gajos D’Ouro, na Rua Aníbal de Mendonça, em Ipanema, endereço nobre da Zona Sul.
Além do sequestro de bens imóveis e móveis, como iates e carros de luxo, a 1ª Vara Especializada em Organização Criminosa do Tribunal de Justiça do Rio determinou buscas e apreensões em 26 endereços. Há na lista desde o apartamento de Rogério, na Barra da Tijuca; uma casa no condomínio Portogalo, em Angra dos Reis; uma fazenda na Bahia; o restaurante Gajos D’Ouro e até a quadra da Mocidade Independente de Padre Miguel, na Zona Oeste. Empresas consideradas de fachada, segundo as investigações, também estão na relação das buscas. Além de endereços ligados a Rogério e ao filho Gustavo Andrade, são alvos os de Renato Andrade, irmão do contraventor, e de um contador.
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O nome da operação é uma referência ao nome do navio Pequod que afundou com o comandante e a tripulação toda ao tentar capturar a baleia Moby Dick, do romance publicado em 1851 pelo escritor Herman Melville. Rogério Andrade tem como hábito se exibir em iates de luxo, um deles avaliado em R$ 10 milhões, e pescar em potentes embarcações. O inquérito foi presidido pelo Departamento Geral de Combate à Corrupção, ao Crime Organizado e à Lavagem de Dinheiro (DGCOR-LD) e pela 4ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Especializada.
A partir da análise de dados extraídos de Relatórios de Inteligência Financeira (RIFs) produzidos pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) comparados com valores declarados à Receita Federal pelo contraventor e 10 cúmplices que os investigadores perceberam artifícios para esconderem a origem da receita, prática típica de lavagem de dinheiro. Do sequestro dos R$ 42 milhões de Rogério, constatou-se que R$ 19 milhões são, comprovadamente, de origem ilícita.
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Já o restante, os R$ 23 milhões, os agentes encontraram fortes indícios de dinheiro proveniente de jogos de azar, desta forma, a promotoria requereu o “confisco alargado” ao titular da 1ª Vara Especializada em Organização Criminosa, o juiz Gustavo Gomes Kalil. Trata-se de uma nova modalidade de confisco, introduzida pelo pacote anti-crime de 2019, que considera, para efeitos de perda, os bens correspondentes à diferença entre o patrimônio do acusado e aquele que seria compatível com seu rendimento lícito.
Foram identificadas ao menos duas empresas de fachada: Planet Boat e Rai Holding. Além de Rogério Andrade, as investigações apontaram seu filho Gustavo Andrade, que está preso, como um dos suspeitos. Os demais aparecem no quadro societário das empresas.
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No início de maio de 2022, Rogério Andrade estava a bordo de um dos seus barcos, pescando no Caribe, quando o MPRJ armava um esquema para prendê-lo. Principal alvo da Operação Calígula, ele participava da competição “Costa Offshore World Championship”, torneio internacional de pesca de peixe de bico. O plano dos promotores era dar a voz de prisão no retorno ao Rio de Janeiro, mas houve vazamento da operação, que chegou ao conhecimento de Rogério, que mudou o rumo da viagem e desapareceu.
Nos vídeos postados nas redes sociais, antes da operação, Rogério apareceu em várias passagens dentro da lancha Randra, nome inspirado nas iniciais do seu nome. Os autores das imagens, no entanto, tomam o cuidado de não mostrá-lo de frente. Numa das fotos, em que ele está de óculos e boné, aparece uma curtida pela mulher Fabíola nas redes, que escreve “meu pescador”. A equipe de Rogério terminou o torneio em quinto lugar.
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Só em agosto do ano passado, Rogério e filho foram presos num condomínio em Petrópolis, na Região Serrana. Embora o contraventor tivesse um habeas corpus, ele acabou sendo preso em flagrante, porque a Polícia Federal e o MPRJ encontraram duas folhas, escritas à mão, com anotações referentes a pagamentos feitos a policiais, na casa de Rogério. No papel, constava a data de 3 de agosto de 2022. Na época, a promotoria justificou a prisão: “uma sistemática cadeia de corrupção mantida de forma persistente com instituição de segurança pública, mesmo durante períodos, inclusive, que Rogério de Andrade permanecia foragido”.
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Mas o contraventor ficou apenas quatro meses preso. Em 20 de dezembro, o plantão judiciário do Tribunal de Justiça determinou a soltura dele, após o Superior Tribunal de Justiça aceitar um pedido de habeas corpus da defesa do contraventor, no dia 16 do mesmo mês. No entanto, Andrade cumpre algumas medidas cautelares impostas pela Justiça. Ele é obrigado a usar tornozeleira eletrônica e não pode sair do país. Está proibido ainda de ficar na rua entre 20h e 6h da manhã, devendo permanecer em casa neste período.
Fonte: Fonte: Jornal Extra