Existe algum animal que faz cocô quadrado?


Existe algum animal que faz cocô quadrado? Pergunta de Jair Leandro Quadros, Cubati (PB) – quer enviar uma pergunta também? Clique aqui.

Pior que existe, caro cubatiense. E só podia vir lá da terra dos exóticos ornitorrincos, coalas, demônios da tasmânia e companhia. Sim, a Austrália, que inclusive tem um museu dedicado ao cocô, como nos conta o escriba viajante Felipe van Deursen, também colunista aqui no UOL.

O autor da proeza geométrica é o vombate (em inglês, wombat, e em português lusitano, fascólomo). Trata-se de um marsupial, como os cangurus, ou seja, as fêmeas têm uma bolsa para carregar os bebês recém-nascidos enquanto completam seu desenvolvimento. Aliás, sabia que no Brasil também tem marsupiais? Mas esse é assunto para uma próxima coluna…

Voltemos às fezes cúbicas do vombate. Ele é o único animal do mundo que defeca nesse formato e até pouco tempo atrás ninguém sabia o porquê. Até que um time internacional de pesquisadores se dedicou a investigar as entranhas do bicho para descobrir a origem do shape exclusivo.

Em entrevista à Natgeo, a especialista em fluidos corporais Patricia Yang, do Instituto de Tecnologia da Geórgia (EUA) e o expert em vombates Mike Swinbourne, da Universidade de Adelaide (Austrália) revelaram o que descobriram —e que ainda restam alguns mistérios— sobre os peculiares dejetos.

Swinbourne começa derrubando uma lenda urbana de que os vombates “esculpiriam” seus restos digestivos assim para demarcar território. “Não é como se eles estivessem tentando construir pequenas pirâmides de tijolos”, brinca o pesquisador.

Em seguida, o australiano elenca o primeiro fator que ajuda a lapidar os cubos fecais: a umidade. Segundo Swinbourne “eles têm que espremer cada gota de umidade”, e quanto mais seco, mais demarcados ficam os ângulos das fezes. Tanto que vombates mantidos em zoológicos, com acesso facilitado à água, apresentam cocôs com arestas mais arredondadas.

Para outros especialistas envolvidos na pesquisa, além da umidade, o formato do intestino também faz parte da equação. A “raiz cúbica” do problema foi investigada por Yang, que conseguiu trazer para seu laboratório, nos EUA, dois intestinos de vombates atropelados na Austrália.

“No começo, pensei que eles talvez tivessem o ânus quadrado ou que [o cubo] se formasse ao redor do estômago”, declarou a pesquisadora à Natgeo. Mas nada disso se confirmou. O segredo parecia estar na maneira como o intestino do vombate se estica e contrai.

Yang e sua equipe, então, inflaram balões inseridos em intestinos de porcos – cujas fezes são arredondadas – e de vombates para comparar os formatos e a elasticidade. Enquanto o intestino de porcos alargava de maneira uniforme, o de vombate apresentava um formato irregular, com dois sulcos internos bem marcados no trecho final.

Essa característica aumenta a elasticidade do intestino na região em que ocorrem e ajuda a dar forma aos excrementos —embora não estudiosos não saibam ainda exatamente porque dois sulcos, em vez de quatro, são suficientes para modelar o cocô vombático.

Após a entrevista, Yang e mais 13 colegas assinaram um artigo em que dissecaram ainda mais o trato intestinal dos vombates, revelando que o cubo mágico se forma a partir de contrações no final do tubo —mais exatamente nos últimos 17% do percurso.

O depoimento final de Yang, inclusive, tem paralelo com o atual momento eleitoral —e por que não dizer, escatológico— da política brasileira.

Ao comentar sobre a raridade de formatos cúbicos na natureza, ela comenta que “atualmente, temos apenas dois métodos para fabricar cubos”, referindo-se à técnica humana de moldar cubos a partir de materiais maleáveis ou cortando-os a partir de objetos rígidos.

“Os vombates têm uma terceira via”.

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