Desde que foi revelado por uma plataforma que aposta em novos talentos, há cerca de dois anos, o nome de Johny Alexandre Gomes, o Jota, de 21 anos, morador do Complexo do Chapadão, na Zona Norte do Rio, não para de crescer no mundo das artes. O jovem artista, que chegou trabalhar como ajudante de pedreiro antes de ser descoberto, participa com duas telas da exposição“Histórias Brasileiras”, em cartaz no Museu de Arte de São Paulo (Masp), desde sexta-feira.
Uma das telas de Jota, que se propõe a retratar a realidade nua e crua da comunidade onde ainda vive com a família, está junto do quadro “Domingo no morro”, de Cândido Portinari. Na mesma parede, o trabalho do rapaz divide espaço com obras de Benedito José Tobias, “Favela do Morro do Salgueiro” e de Heitor dos Prazeres, “Morro da Mangueira”.
A obra de Jota batizada “Davi e Golias” mostra uma luta entre dois jovens que, segundo a visão do artista é uma das formas encontradas pelo homem negro para afirmar sua masculinidade. O outro quadro se chama “Conteúdo ilícito”, título irônico para uma cena que retrata jovens numa cena típica de favela ostentando cordões de ouro, celular e uísque.
O próprio Jota, jovem negro de favela, nunca tinha entrado antes no Masp e não imaginava que a primeira vez seria para a abertura de uma mostra em que ele é atração ao lado de alguns dos principais artistas brasileiros. A mostra “Histórias Brasileiras”, que fica em cartaz até 30 de outubro se propõe rever a história do Brasil, às vésperas do Bicentenário da Independência, através de 400 obras de pintores acadêmicos e da nova geração.
— Participar dessa exposição tem um significado muito especial para mim. É um passo importante na minha carreira. Expor ao lado dos maiores artistas brasileiros de todos dos tempos como Portinari, Heitor dos Prazeres e Tobias é uma conquista muito importante — reconhece Jota que não acreditava estar tão cedo expondo ao lado de pintores que considerava uma referência.
Leia também: Após ataque hacker, Previ-Rio vai abrir novo prazo para servidor municipal aderir ao plano de saúde
Para Margareth Telles, a descobridora de Jota, a participação de um artista negro e de favela numa mostra importante como essa, além da representatividade, abre uma oportunidade de visibilidade para a obra do jovem do Chapadão. Margareth é criadora da MT Projetos de Arte, uma plataforma que apoia novos talentos de fora do circuito tradicional e, principalmente, das periferias.
— É muito importante posicionar um artista negro que vem do Complexo do Chapadão, uma das favelas mais violentas do Rio, ao lado de grandes artistas que, inclusive também pintaram a favela. Para ele é emocionante chegar a esse local de elite mostrando a luta do homem negro em sua guerra diária. Com 21 anos e já estar fazendo parte disso deixa a gente muito feliz e sensação de que estamos no caminho certo —afirmou.
Ceperj: Folha secreta tem 46 nomes de candidatos nas eleições deste ano
Desde que foi descoberto, a carreira de Jota não para de evoluir. Em setembro do ano passado, o rapaz fez a sua primeira exposição individual numa galeria no Centro do Rio. Antes disso já tinha exposto no Art Rio, um dos principais eventos de artes do País, onde volta a marcar presença na próxima edição, que começa no dia 14, com dez telas.
Em julho, Jota havia feito a sua primeira exposição internação, ao participar da “Inspired Flight”, mostra que reunia o trabalho dos cinco vencedores do prêmio Prince Claus, em 2021. O rapaz foi o mais jovem artista a ganhar a premiação, considerada uma das mais importantes fora do circuito tradicional da área.
Fonte: Portal G1