‘Foram os seis piores dias da minha vida, fiquei sem comer, bebendo água de chuva e do mar’

“Na segunda-feira (8), tinha um solzinho e decidi pegar a bicicleta e ir á praia sem avisar ninguém. Foi o meu erro. Desci com a bicicleta na trilha e fiquei sentado. Foi eu fechar os olhos, e uma onda me levou. Afundei e, quando subi, veio uma nova onda e mergulhei para sair da arrebentação. A partir daí, a correnteza foi me levando. Eu só pedia a Deus que aquilo acabasse e que um barco ou uma aeronave passasse e me socorresse.

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Quando estava em alto-mar, avistei esse local e fui nadando até lá. Tentava subir na pedra e nada. Uma onda veio, e deixei o meu corpo me levar. Agarrei nos corais, consegui subir e vi que ali não dava para ficar. Descansei um pouco, pulei na água, fui para outra ilha e achei uma gruta, onde tinha um tronco podre, que usei como travesseiro e cochilei. De noite, na terça, começou a chover, e acordei. Molhei a boca com as gotinhas. Ao longo dos dias, fui caminhando para arrumar um lugar melhor. Achei uma corda que os pescadores usam para a travessia de uma ilha a outra. Subi nela e fui até uma cabana.

Caso usada por pescadores na Ilha das Palmas, onde o jardineiro Nelson Ribeiro ficou abrigado
Caso usada por pescadores na Ilha das Palmas, onde o jardineiro Nelson Ribeiro ficou abrigado Foto: Gabriel de Paula / Agência O Globo

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Fiquei sentado o dia todo esperando por ajuda. Eu sacudia a camisa para ver se o pessoal da praia enxergava, mas era em vão. Na quarta, fiz uma prancha com uma porta e apoiei a barriga. No fundo, coloquei um isopor, pulei em cima e fui até certo ponto. Mas a correnteza não me deixou passar para Grumari, ela me jogou de novo para a ilha.

Tentei fazer isso o dia todo. Com medo de escurecer e eu ficar no mar, voltei nadando para a ilha. Nesses seis dias, encontrei dois limões, que comi. Tinha um pouco de carvão e, como a fome era grande, comi um pedaço de carvão para enganar o estomago. Eu só pensava na minha neta, que não a veria mais. Eu não conseguia mais andar, meu pé doía muito. Falei com Deus.

Nelson Ribeiro mostra as marcas da luta pela sobrevivência
Nelson Ribeiro mostra as marcas da luta pela sobrevivência Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo

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No sábado, por volta das 8h ou 9h, quatro surfistas passaram de jet-skis. Eles me pediram para aguardar. Fiquei deitado esperando e em seguida escutei a voz de um bombeiro me chamando. E veio o resgate.

Foram os seis piores dias da minha vida. Fiquei sem comer, bebendo água de chuva e do mar. No sábado só tinha água salgada.

Quando encontrei minha namorada, minha filha e minha neta, elas ficaram muito felizes. Eu acredito em Deus.

Não me considero um náufrago igual ao do filme (personagem, interpretado por Tom Hanks, que caiu numa ilha com frutas e uma bola de vôlei). Aqui eu não tinha nada.”

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Fonte: Portal G1