A morte de um homem após seu carro explodir quando era abastecido na última terça-feira acendeu o alerta vermelho para quem utiliza GNV. Mário Magalhães da Penha, de 67 anos, estava perto do veículo enquanto enchia o tanque com gás num posto da Rua Vinte e Quatro de Maio, em São Francisco Xavier, Zona Norte do Rio, e foi lançado a dois metros de onde estava pela força da explosão do cilindro. Ele passou por uma cirurgia, mas não resistiu.
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Imagens de câmera de segurança do posto mostram que, momentos antes da explosão, Mário e uma mulher estavam de pé próximo ao veículo, perto da porta do carona. Ele, então, caminhou até a traseira do carro e abriu o porta-malas. Três segundos depois, o veículo explodiu. Ele chegou a ser levado para o Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, mas ontem a Secretaria municipal de Saúde comunicou a sua morte. A mulher, que seria esposa de Mário, também ficou ferida, foi levada para o Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro, e liberada no mesmo dia.
Cilindro não seria original
Claudio Torelli, diretor de comunicação da Associação Nacional dos Organismos de Inspeção (Angis), com 30 anos de experiência na área de inspeção, afirma que há suspeitas de que o cilindro que explodiu não era o original de instalação.
— Há indícios de que este cilindro que estava no carro estava condenado. Pela coloração dele, pela ferrugem, tem-se a impressão de que ele passou por um outro sinistro, por fogo, provavelmente.
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O caso está sendo investigado pela 25ª DP (Engenho Novo). Uma perícia foi realizada no local ainda no dia do incidente, e testemunhas, como funcionários do posto, vêm comparecendo à unidade para prestar depoimento. Os agentes também analisam o conteúdo de imagens das câmeras de segurança que flagraram a explosão. O objetivo é detectar se pode ter havido alguma falha de segurança ou de protocolo.
Nas imagens, é possível ver que o carro ficou destruído, assim como parte do teto do posto e das bombas de combustível. De acordo com frentistas do estabelecimento, a explosão ocorreu no cilindro de gás do veículo, que estava em mau estado de conservação.
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A clandestinidade e a desinformação são dois vilões que colocam em risco a vida dos motoristas, na avaliação de Torelli. Ele fez parte da equipe que investigou o primeiro acidente com GNV no Brasil, em 1994, e alerta para a necessidade de seguir os parâmetros dos órgãos de fiscalização, nesse caso, o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro).
— O deslocamento de ar em uma explosão como essa é absurdamente alto, mas sendo aplicado corretamente, o GNV é altamente seguro. Todo o sistema é muito controlado — afirma.
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O barato que sai caro
Claudio Torelli chama atenção para o perigo de buscar soluções mais baratas na hora de instalar o kit gás:
— O acidente acontece geralmente quando a pessoa faz instalações ou alterações fora das normas de segurança e com pessoas não credenciadas para isso — afirma.
Na hora da escolha do local de instalação, o preço mais em conta não é o melhor parâmetro.
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— Eu posso afirmar que 100% dos acidentes com GNV foram provocados por manipulações não habilitadas e usando produtos condenados. Uma oficina que é registrada pelo Inmetro segue regras muito rígidas para instalação. Quando você vai para a clandestinidade em busca de economia, ela não é mais barata, é matadora — afirma Claudio, que acrescenta: — Um carro novo com um litro de gasolina faz em média 8 quilômetros. Com gás, ele faz 12 quilômetros por metro cúbico, isso dá em média 40 centavos por quilômetro. Por que fazer uma gambiarra? O prejuízo pode ser muito grande e até fatal.
Lei proíbe abastecer sem selo do Inmetro
Desde setembro de 2021, uma lei municipal no Rio proíbe que os postos abasteçam com GNV os carros que não apresentem o selo do Inmetro. Segundo a Associação dos Organismos de Inspeção Veicular do Rio de Janeiro (Assinsp), cerca de 60% dos veículos com GNV no Rio estão irregulares. De acordo com a entidade, consulta a um aplicativo durante o abastecimento revela que apenas cerca de 40% dos veículos estão com o documento em dia; outros 40% estão com a vistoria vencida, e 20% nem sequer levaram ao Inmetro para a inspeção inicial.
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Claudio Torelli sugere duas iniciativas de órgãos responsáveis que reduziriam os riscos: retirada de circulação de veículos com kit gás irregular em blitzes e ordem da Agência Nacional de Petróleo (ANP) para exigir o selo do Inmetro nos postos:
— A gente quer que os postos só abasteçam com o selo. Esse seria o início de uma solução para o problema. Forçaria o mercado a se adequar.
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O estado do Rio tem 1.620.873 veículos com GNV. Para garantir a segurança dos veículos, do condutor e dos passageiros, a inspeção do sistema de gás deve acontecer anualmente. Além disso, a cada cinco anos, o cilindro precisa passar por um ensaio hidrostático — o mesmo teste feito em um cilindro de mergulho, por exemplo — para identificar se ele resiste ao abastecimento de gás. Existem empresas especializadas que também são autorizadas pelo Inmetro.
— Não tem história de acidentes ou explosões em carros com GNV legalizado pelo órgão de fiscalização. As oficinas registradas seguem quase um mantra na hora de instalar o kit gás. Existem, em território fluminense, 320 oficinas autorizadas. A lista dos estabelecimentos pode ser conferida no site da instituição.
Fonte: Portal G1