As mudanças de hábitos e a imposição de medidas restritivas para conter o avanço da pandemia do novo coronavírus fizeram a indústria destinada à fabricação de produtos alimentícios contratar mais de 120 mil profissionais e assumir quase um quarto do faturamento do setor em 2020.
Os dados apresentados nesta quinta-feira (21) pela PIA (Pesquisa Industrial Anual) mostram que a evolução da RLV (Receita Líquida de Vendas) dos produtores de alimentos cresceu 3,6 pontos percentuais na passagem de 2019 para 2020 e passou a concentrar 24,1% do faturamento da indústria brasileira. Em 2011, o setor correspondia a 18,2% do segmento industrial.
Para suprir a demanda maior do período, o setor de fabricação de produtos alimentícios aumentou a mão de obra ocupada em 7,4% no período, o equivalente a um acréscimo de 121,5 mil profissionais. Com as contratações, o segmento passou a empregar 23% dos trabalhadores da indústria.
A pesquisa destaca que a crise sanitária evidenciou que o grau de resiliência entre os segmentos industriais depende da busca pelos bens e serviços industriais produzidos, da necessidade de matérias-primas importadas e até mesmo da capacidade instalada que possibilite adaptar as linhas de produção diante de movimentos não antecipados de demanda.
“Algumas atividades podem ter enfrentado maior dificuldade de escoamento de mercadorias, enquanto outras precisaram estabelecer turnos extras de trabalho para fazer frente às encomendas e cumprir contratos”, analisa o estudo divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Emprego
Segundo o levantamento, a indústria brasileira ocupava 7,65 milhões de trabalhadores em 2020, dos quais 97,4% estavam inseridos nas indústrias de transformação, responsáveis por 92,9% do faturamento total das firmas naquele ano. O total de funcionários é 35.241 superior ao apurado no ano anterior.
Em média, cada indústria emprega 25 profissionais, com destaque para as companhias extrativas, que ocupavam uma média de 32 pessoas há dois anos. Na indústria de transformação, o porte médio de contratados também é de 25 pessoas.
Juntos, os cinco setores que mais empregam concentram 46,5% da mão de obra industrial. Além da fabricação de alimentos (23%), aparecem na lista a confecção de artigos de vestuário e acessórios (6,7%), a fabricação de produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos (5,8%), a fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias (5,7%) e a fabricação de produtos de minerais não metálicos (5,3%).
O estudo revela ainda que 1 milhão de trabalhadores deixaram a indústria no período compreendido entre 2011 e 2020. Na avaliação dos pesquisadores, o movimento ocorre com as mudanças estruturais, como a evolução da tecnologia, a forte concorrência com o mercado externo e a dependência de insumos.
No período, mais da metade das perdas esteve concentrada nos ramos de confecção de artigos de vestuário e acessórios (-258,4 mil vagas), de preparação de couros e fabricação de artefatos de couro, artigos para viagem e calçados (-138,1 mil cargos) e de fabricação de produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos (-134,2 mil postos).
Salários
O estudo revela também que o salário médio recebido pelos profissionais que atuam na indústria correspondia, em 2020, a três salários mínimos, o equivalente a R$ 3.135. O valor equivale a uma redução de 0,2 salário mínimo na remuneração paga aos trabalhadores do setor.
Para os pesquisadores, a redução/manutenção dos salários pode ter sido suavizada pelo Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda, criado para mitigar os efeitos econômicos da pandemia sobre as empresas e os trabalhadores.
“Mesmo nas atividades que tiveram redução salarial, a renda do trabalhador pode ter sido complementada com os recursos do BEm (Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda). Essa percepção pode ser corroborada pelo fato de que 20 dos 29 setores industriais aumentaram o número de pessoas ocupadas entre 2019 e 2020”, avalia o IBGE.
Conforme a apuração, as indústrias extrativas pagavam a remuneração mais alta, equivalente a 4,6 mínimos (R$ 4.807), enquanto a indústria de transformação respondia pelos menores salários, de 2,9 mínimos (R$ 3.030,50).
De acordo com o IBGE, o resultado foi influenciado pela remuneração elevada no setor de extração de petróleo e gás natural, cujo salário mensal, em média, alcançou 22,7 salários mínimos em 2020, o equivalente a R$ 23.721,50.
Na indústria de transformação, mesmo com salários mais baixos, destacam-se as áreas de fabricação de coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis (R$ 7.628,50), fabricação de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (R$ 6.792,50) e fabricação de produtos do fumo (R$ 5.747,50).
Fonte: Economia R7