Antigo Moinho Fluminense passará por reforma e terá escritórios e área de lazer

Marco arquitetônico na Zona Portuária do Rio, o prédio do antigo Moinho Fluminense começa a ser restaurado a partir do segundo semestre. A ideia é transformar a antiga sede da administração em um espaço multiuso, com escritórios comerciais, bares, restaurantes e local para eventos, como shows sob os silos que, no passado, armazenaram trigo. A modernização da área prevê, em uma segunda etapa, a construção de prédios residenciais e corporativos em terrenos vizinhos, que faziam parte do complexo industrial. Todo o projeto deve ser desenvolvido em três anos.

— O projeto é fundamental para o plano de revitalização do Porto Maravilha. Como envolve dez mil metros quadrados, ele ajudará a integrar duas áreas da região que estão sendo revitalizadas: o entorno do Boulevard Olímpico e a Praça da Harmonia — explica o presidente da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Porto (Cdurp), Gustavo Guerrante.

Circulação de público

Projeto prevê transformar a antiga sede da administração do Moinho em um espaço de convivência
Projeto prevê transformar a antiga sede da administração do Moinho em um espaço de convivência Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo

Pelo menos dois andares do prédio administrativo do Moinho Fluminense serão transformados em lajes corporativas para locação. No caso de eventos, a intenção é promover tanto atividades abertas ao público quanto particulares.

E a integração não se limitará ao prédio histórico. Segundo a Cdurp, a intenção é que parte dos terrenos dos imóveis corporativos permaneça aberta para a circulação do público, com praças compartilhadas para lazer.

Mesmo sem o lançamento oficial do projeto, algumas iniciativas culturais já ocorreram no prédio do Moinho. Em novembro do ano passado, o espaço abrigou um ateliê para a montagem de exposições exibidas depois no Museu de Arte Moderna.

O licenciamento do projeto está sendo providenciado pela Autonomy Investimentos, que adquiriu o espaço em 2019. Por enquanto, a empresa — especializada na gestão de projetos imobiliários — não fala sobre o projeto, só se pronunciando por intermédio da Cdurp. Na semana passada, por decreto, a prefeitura deu aval para o empreendimento, prevendo o uso dos chamados Certificados de Potencial Construtivo (Cepacs).

A aquisição de Cepacs permitirá que os proprietários do Moinho construam os prédios no entorno. O custo total dos Cepacs dependerá da área a ser construída, ainda não divulgada pela empresa.

Nos últimos anos, diante da retração de lançamentos imobiliários no Porto, houve poucas vendas de Cepacs pelo Fundo Imobiliário da Caixa Econômica Federal, que opera o mecanismo. O problema afeta a conservação da região, parcialmente reassumida pela prefeitura. Há falta de recursos oriundos de certificados para manter a gestão, que é objeto de uma Parceria Público-Privada (PPP).

A Autonomy contratou a S9 Architecture, um escritório de arquitetura americano para desenvolver o projeto do Moinho. Em Nova York, ela assinou a remodelagem de alguns prédios industriais antigos nas imediações da Ponte do Brooklyn. A empresa desenvolve a proposta em parceria com outro escritório do Rio de Janeiro.

Esse é o segundo projeto anunciado para o Moinho Fluminense. Em 2015, quando o imóvel foi comprado pelo fundo de investimentos Vince Partners, a proposta já era construir torres comerciais, mas os antigos silos de armazenagem de trigo seriam convertidos em cerca de 200 quartos de um hotel boutique. A ideia não foi adiante, e o fundo repassou o prédio para os controladores atuais.

Marco como fábrica de pão

O Moinho Fluminense, inaugurado em 1887, foi a primeira fábrica de moagem de trigo do Brasil. Em 1893, o então ministro da Fazenda Ruy Barbosa se escondeu no local, para fugir de marinheiros que aderiram à Revolta da Armada, contra o governo do presidente Floriano Peixoto. Em 1904, a população montou barricadas em frente ao imóvel na Revolta da Vacina, contra a obrigatoriedade daimunização contra a febre amarela.

A inauguração do Moinho também é considerada um marco da fabricação do pão no país, que até então importava toda a matéria-prima. Quando foi aberto, o Rio tinha apenas três padeiros, pois havia dificuldade de se ter matéria prima na cidade.

Em 2013, o imóvel foi vendido para a Bunge Alimentos, que, em 2016, transferiu a indústria para Duque de Caxias.

Fonte: Portal G1